Biografia do Papa Bento XVI

Bento XVI, em Latim, Benedictvm XVI, nasceu em 16 de Abril de1927, em Marktl am Inn, na Baviera, Alemanha. Este foi o nome adotado pelo Cardeal Joseph Ratzingerao ser escolhido como o novo Papa após o conclave de 2005. O colégio de Cardeais elegeu-o como Papa em 19 de Abril de 2005. O anúncio do novo papa se deu por volta das seis horas da tarde, hora do Vaticano. Ratzinger era um dos favoritos para ser escolhido como Papa, na sucessão de João Paulo II.
 
 
1. Perfil

Em 1981, Ratzinger foi apontado como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé pelo Papa João Paulo II, cargo que manteve até ao falecimento do seu antecessor. Foi designado bispo-cardeal da Sé Episcopal de Velletri-Segni em 1993 e tornou-se Decano do Colégio Cardinalício em 2002, tornando-se o bispo titular de Ostia. Foi um dos homens mais influentes no Vaticano e muito próximo ao Papa João Paulo II.

Eleito aos 78 anos, Joseph Ratzinger é o primeiro Papa alemão desde Vítor II (1055-1057). Refere-se que as suas ideias se aproximam das da Opus Dei, embora não seja membro desta prelatura. Considerado conservador, Bento XVI adotará possivelmente no seu Pontificado propostas semelhantes às do seu antecessor.

Nos anos 90, o Cardeal Ratzinger participou da elaboração de documento sobre a concepção humana como sendo o momento da animação. "A partir da união do óvulo com o espermatozóide temos uma vida humana perante Deus."

Ha quem diga que diante desta premissa, é muito provável que o Vaticano mantenha sua posição diante das pesquisas com células embrionárias e diante do aborto.
 
 
2. Biografia

Joseph Alois Ratzinger é filho do oficial de polícia profundamente anti-nazista. Seus pais eram Joseph Ratzinger e Maria Ratzinger. Em 1937 o seu pai reformou-se e a família mudou para Traunstein. Quando fez 14 anos (1941), Joseph foi obrigado a aderir à Juventude Hitleriana, mas, de acordo com o seu biógrafo John Allen, não era um membro entusiasta. Pediu para não ir às cerimónias e recusou assistir a qualquer encontro.

Em 1943, aos 16 anos, foi com os seus colegas de escola levado a proteger uma fábrica da BMW nos arredores de Munique. Fez treino básico de infantaria e foi enviado à Hungria, onde fabricou defesas anti-tanque até fugir em Abril de 1944 (arriscando a pena de morte).
Em Novembro do mesmo ano, alista-se no treinamento básico da infantaria alemã, mas, é dispensado de diversas obrigações militares severas por motivos de doença não divulgados.
 
Celebrando a Eucaristia em 1952
 
 
Em 1945 foi brevemente detido num campo dos países aliados para prisioneiros de guerra, sendo libertado em Junho. Com o irmão Georg Ratzinger entrou num seminário católico. Em 29 de Junho de 1951, foram ambos ordenados sacerdotes pelo Cardeal Faulhaber, de Munique. A sua dissertação (1953) versou o tema de Santo Agostinho e uma segunda foi elaborada sobre São Boaventura.

Ratzinger foi professor na Universidade de Bonn entre 1959 e 1963, transferindo-se para a Universidade de Münster. Em 1966, toma a cátedra de teologia dogmática na Universidade de Tübingen, onde foi colega de Hans Küng e confirmou uma certa visão tradicionalista como oposição às tendências marxistas dos movimentos estudantis dos anos 60. Em 1969 reg(ressa à Baviera, para leccionar na Universidade de Regensburg. No Concílio do Vaticano Segundo (1962 - 1965), Ratzinger assistiu como peritus (especialista em teologia) o Cardeal Joseph Frings de Colónia.

Foi nomeado em março de 1977 Arcebispo de Munique e Cardeal no dia 27 de Junho de 1977, pelo Papa Paulo VI. Durante vinte e três anos (no período do Papa João Paulo II), foi prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, como o antigo Tribunal da Santa Inquisição passa a ser chamado depoisa de 1908. Nesse período, foi responsável por diversas atitudes polêmicas, incluindo a publicação de um documento de doze páginas que desagradou as militâncias homossexuais em todo o mundo.
 
 
3. Eleição

 


Às 17h50 do dia 19 de Abril de 2005 (hora do Vaticano), fumaça branca saía da chaminé da Capela Sistina. Cerca de quinze minutos depois, às 18h:04 h, soavam os sinos da Basílica de São Pedro. O nome do cardeal alemão foi anunciado por volta das 18:40, hora do Vaticano, da varanda da Basílica de São Pedro, onde o novo Papa surgiu minutos depois, aclamado por milhares de pessoas que preenchiam a Praça de São Pedro, o coração do Vaticano.
 
 
4. Anúncio (habemus Papam)

Annuntio vobis gaudium magnum; Habemus Papam: Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum, Dominum Josephum Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinalem Ratzinger Qui sibi nomen imposuit Benedictum XVI.

Em Português seria:
Vos anuncio uma grande alegria; Temos Papa; O Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Joseph, Cardeal da Santa Igreja Romana, Ratzinger. Que se deu o nome de Bento XVI.
 
 
5. Bênção Urbi et Orbi e Primeiras Palavras

Estas foram as primeiras palavras proferidas pelo papa Bento XVI:

Queridos irmãos e irmãs:
Depois do grande Papa João Paulo II, os senhores cardeais elegeram a mim, um simples, humilde trabalhador na vinha do Senhor. Consola-me o fato de que o Senhor sabe trabalhar e atuar com instrumentos insuficientes e, sobretudo, confio em vossas orações.
Na alegria do Senhor ressuscitado, confiados em sua ajuda permanente, sigamos adiante. O Senhor nos ajudará. Maria, sua santíssima Mãe, está do nosso lado.
Obrigado.
 
 
6. Obras publicadas
  • O sal da terra. Imago, 1997.
  • A Igreja e a nova Europa. Verbo (Brasil), 1994.
  • Eschatology. Catholic University, 1989.
  • Introduzione al Cristianismo. Queriniana Editrice, 2003.
  • La comunione nella Chiesa. San Paolo Edizioni, 2004.
  • Fede, verita e tolleranza. Cantagalli, 2003.
  • Il cammino pasquale. Ancora, 2000. João Paulo II. 2000.
  • Behold the Pierced One
  • Called to Communion
  • Co-Workers of the Truth: Meditations for Every Day of the Year
  • The Feast of Faith
  • God and the World
  • God Is Near Us: The Eucharist, the Heart of Life
  • Gospel, Catechism and Catechesis
  • Introduction to Christianity
  • Introduction to the Catechism of the Catholic Church
  • Many Religions, One Covenant
  • Meaning of Christian Brotherhood
  • Milestones: 1927-1977
  • Nature and Mission of Theology
  • Principles of Christian Morality (co-author)
  • Principles of Catholic Theology
  • The Ratzinger Report
  • Salt of the Earth
  • The Spirit of the Liturgy
  • Truth and Tolerance: Christian Belief and World Religions


7. Links
 
 


8. Doutorados:

  • 1984 Doutor Honoris Causa pelo College of St. Thomas in St. Paul / Minnesota
  • 1985 Doutor Honoris Causa pela Universidade Católica do Eichstätt
  • 1986 Doutor Honoris Causa pela Universidade Católica de Lima
  • 1986 Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Telogia Pontifícia e Civil de Lima
  • 1988 Doutor Honoris Causa pela Universidade Católica do Lublin.
  • 1998 Doutor Honoris Causa pela Universidade da Navarra na Pamplona.
  • 1999 Doutor Honoris Causa pela Uiversidad Livre Maria SS Assunta (LUMSA) em Roma.
  • 2000 Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Teologia da Universidade do Wroclaw
 
 


9. Escudo



  O escudo mantém elementos que aludem às orígens bávaras do novo Pontífice. Leva na esquina superior esquerda, o Mouro da Frisinga, a cabeça coroada de um etíope que desde 1316 aparece no escudo da Frisinga.

Na parte superior direita figura o Urso do Corbiano, que faz referência à lenda do Bispo Corbiano, que pregou o Evangelho na antiga Baviera e é considerado o pai espiritual da Arquidiocese do Munique-Frisinga.
Segundo a tradição, quando o bispo viajava a Roma, um urso devorou ao animal de carga que levava. Corbiano obrigou ao urso a levar sobre suas costas a bagagem até a Cidade Eterna. Uma vez em Roma, o liberou.
O escudo se completa com as duas chaves cruzadas símbolo do ministério de Pedro.

(fonte: Wikipedia)


10. Biografia Oficial (Fonte: página do Vaticano)

Joseph Ratzinger nomeado Cardeal em 1977 e Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé em 1981, Decano do Colégio Cardinalício desde 2002 nasceu em Marktl am Inn, no território da Diocese de Passau (Alemanha), a 16 de Abril de 1927.

Seu pai era um comissário de polícia e provinha de uma família de agricultores da Baixa Baviera, cujas condições económicas eram bastante modestas. A mãe era filha de artesãos de Rimsting, no lago de Chiem, e antes de casar tinha trabalhado como cozinheira em vários hotéis.

Transcorreu a sua infância e a sua adolescência em Traunstein, uma pequena cidade perto da fronteira com a Áustria, a cerca de trinta quilómetros de Salisburgo. Recebeu neste contexto, que ele mesmo definiu "mozartiano", a sua formação cristã, humana e cultural.

O tempo da sua juventude não foi fácil. A fé e a educação da sua família preparou-o para a dura experiência dos problemas relacionados com o regime nazista: ele recordou ter visto o seu pároco açoitado pelos nazistas antes da celebração da Santa Missa e de ter conhecido o clima de grande hostilidade em relação à Igreja católica na Alemanha.

Mas precisamente nesta complexa situação, descobriu a beleza e a verdade da fé em Cristo e foi fundamental o papel da sua família que continuou sempre a viver um testemunho cristalino de bondade e de esperança radicada na pertença consciente à Igreja.

Quase no final da tragédia da Segunda Guerra Mundial também foi alistado nos serviços auxiliares anti-aéreos.

De 1946 a 1951 estudou filosofia e teologia na Escola superior de filosofia e teologia de Frisinga e na Universidade de Munique.

Em 29 de Junho de 1951 foi ordenado sacerdote.

Um ano mais tarde, Pe. Joseph Ratzinger iniciou a sua actividade didáctica na mesma Escola de Frisinga onde tinha sido estudante.

Em 1953 formou-se em teologia com uma dissertação sobre o tema: "Povo e Casa de Deus na Doutrina da Igreja de Santo Agostinho".

Em 1957 fez a livre docência com o conhecido professor de teologia fundamental de Munique, Gottlieb Söhngen, com um trabalho sobre: "A teologia da história de São Boaventura".

Depois de um cargo de dogmática e de teologia fundamental na Escola superior de Frisinga, prosseguiu a sua actividade de ensino em Bonn (1959-1969), em Monastério (1963-1966) e em Tubinga (1966-1969). A partir de 1969 foi professor de dogmática e de história dos dogmas na Universidade de Ratisbona, onde desempenhou também o cargo de Vice-Reitor da Universidade.
A sua intensa actividade científica levou-o a desempenhar importantes cargos no âmbito da Conferência Episcopal Alemã, na Comissão Teológica Internacional.

Entre as suas publicações, numerosas e qualificadas, teve particular eco a "Introdução ao cristianismo" (1968), uma colectânea de lições universitárias sobre a "profissão de fé apostólica"
Em 1973, foi publicado o volume: "Dogma e Revelação", que reúne os ensaios, as meditações e as homilias dedicadas à pastoral.

Teve grande ressonância a sua conferência pronunciada na Academia Católica da Baviera sobre o tema: "Por que é que eu ainda estou na Igreja?". Nesta ocasião declarou com a sua habitual clareza: "Só na Igreja é possível ser cristãos e não ao lado da Igreja".

A série numerosa de publicações continuou abundante e pontual ao longo dos anos, constituindo um ponto de referência para tantas pessoas e sobretudo para quantos estão comprometidos no estudo aprofundado da teologia. Basta pensar, por exemplo, no volume "Relatório sobre a fé" de 1985 e no volume "O sal da terra" de 1996. Deve ser recordado também o livro "Na escola da Verdade", impresso por ocasião do seu septuagésimo aniversário.

De grande valor, central na vida do Pastor Ratzinger, foi a experiência proveitosa da sua participação no Concílio Vaticano II, nas vestes de "perito", experiência que ele viveu também como confirmação da própria vocação por ele mesmo definida "teológica".

A 25 de Março de 1977 o Papa Paulo VI nomeou-o Arcebispo de Monastério e Frisinga.

Recebeu a ordenação episcopal no dia 28 de Maio do mesmo ano: foi o primeiro sacerdote diocesano que assumiu, depois de oitenta anos, o governo pastoral da grande Diocese da Baviera. Escolheu como mote episcopal: "Colaboradores da Verdade".

O Papa Montini criou-o e publicou-o Cardeal, do Título de Santa Maria Consoladora no Tiburtino, no Consistório de 27 de Junho de 1977.

Foi Relator na Quinta Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos (1980) sobre o tema da Família cristã no mundo contemporâneo. Naquela ocasião, na sua primeira Relação, desenvolveu uma análise ampla e pormenorizada sobre a situação da família no mundo, realçando a este propósito a crise da cultura tradicional diante da mentalidade tecnicista e meramente racional. Ao lado dos aspectos negativos, não deixou de evidenciar a redescoberta do verdadeiro personalismo cristão como fermento que fecunda a experiência conjugal de muitos casais, e exortou também a uma correcta avaliação do papel da mulher, que deve ser incluída entre as questões fundamentais na reflexão sobre o matrimónio e a família. Na segunda parte da Relação, dedicada ao desígnio de Deus sobre as famílias de hoje, recordou sobretudo que a masculinidade e a feminilidade são expressão da comunhão das pessoas como sinal original do dom de amor do Criador. Portanto realçava o amor do homem e da mulher não é privado, nem profano, nem meramente biológico, mas algo de sagrado que introduz num "estado", numa nova forma de vida, permanente e responsável. O matrimónio e a família recordou com veemência precedem de qualquer maneira o Estado e ele deve respeitar o direito próprio do matrimónio e da família e o seu íntimo mistério. Na terceira parte o Purpurado enfrentou os problemas pastorais ligados à família: da construção de uma comunidade de pessoas ao da geração da vida, da tarefa educativa à necessidade da preparação dos jovens para o matrimónio e para a vida familiar, das tarefas sociais às culturais e morais. A família, concluía, pode testemunhar ao mundo uma nova humanidade face ao domínio do materialismo, do hedonismo e da permissividade.

Foi Presidente Delegado da Sexta Assembleia (1983) que teve por tema a reconciliação e a penitência na missão da Igreja. Na sua intervenção nos trabalhos repetiu as normas pastorais promulgadas pela Congregação para a Doutrina da Fé que dizem respeito ao Sacramento da Reconciliação e aprofundou, em particular, as questões ligadas a dois interrogativos que surgiram várias vezes durante os trabalhos nas assembleias: o relativo à obrigação de confessar os pecados graves já absolvidos durante a absolvição geral e o concernente à confissão pessoal como elemento essencial do Sacramento.

A sua palavra ofereceu um contributo fundamental de reflexão e de confronto para o desenvolvimento de todos os Sínodos dos Bispos.

A 25 de Novembro de 1981 João Paulo II nomeou-o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Foi também Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional. A 15 de Fevereiro de 1982 renunciou ao governo pastoral da Arquidiocese de Monastério e Frisinga.

O seu serviço como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé foi incansável e é quase impossível enumerar o seu trabalho no espaço de uma biografia. A sua obra como Colaborador de João Paulo II foi contínua e preciosa.

Entre os numerosos pontos firmes da sua obra, destacamos o papel de Presidente da Comissão para a Preparação do Catecismo da Igreja Católica.

A 5 de Abril de 1993 foi chamado a fazer parte da Ordem dos Bispos e tomou posse do Título da Igreja Suburbicária de Velletri-Segni.

No dia 6 de Novembro de 1998 foi nomeado Vice-Decano do Colégio Cardinalício e a 30 de Novembro de 2002 tornou-se Decano: tomou posse do Título da Igreja Suburbicária de Ostia.

Até à eleição para a Cátedra de Pedro foi Membro do Conselho da II Sessão da Secretaria de Estado; das Congregações para as Igrejas Orientais, do Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, para os Bispos, para a Evangelização, para a Educação Católica; do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos; da Pontifícia Comissão para a América Latina e da Pontifícia Comissão "Ecclesia Dei".

Por ocasião do seu cinquentenário de ordenação sacerdotal, João Paulo II enviou-lhe uma mensagem na qual, referindo-se à coincidência do seu jubileu com a solenidade litúrgica dos Santos Pedro e Paulo, com palavras de certa forma "proféticas" lhe recordava que "em Pedro ressalta o princípio de unidade, fundado na fé firme como a rocha do Príncipe dos Apóstolos; em Paulo a exigência intrínseca do Evangelho de chamar cada homem e cada povo à obediência da fé. Estas duas dimensões conjugam-se no testemunho comum de santidade, que cimentou a generosa dedicação dos dois apóstolos ao serviço da imaculada Esposa de Deus. Como não ver nestas duas componentes perguntava João Paulo II também as coordenadas fundamentais do caminho que a Providência dispôs para Si, Senhor Cardeal, chamando-o ao Sacerdócio?".

A ele foram confiadas as meditações da Via-Sacra de 2005 celebrada no Coliseu. Nesta inesquecível Sexta-Feira Santa, João Paulo II, estreitando a si o Crucifixo, num "ícone" comovedor de sofrimento, ouviu em silencioso recolhimento as palavras daquele que iria ser o seu Sucessor na Cátedra de Pedro. Significativamente, o leitmotiv da Via-Sacra foi a palavra pronunciada por Jesus no Domingo de Ramos, com a qual imediatamente depois da sua entrada em Jerusalém responde à pergunta de alguns gregos que o queriam ver: "Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, permanece só; ao contrário, se morrer, dá muito fruto" (Jo 12, 24). Com estas palavras o Senhor ofereceu uma interpretação "eucarística" e "sacramental" da sua Paixão. Mostra-nos foi a sua reflexão que a Via-Sacra não é simplesmente uma cadeia de sofrimento, de coisas nefastas, mas um mistério: é precisamente este processo no qual o grão de trigo ao cair na terra dá fruto. Por outras palavras, mostra-nos que a Paixão é uma oferenda de si mesmo e este sacrifício dá fruto e torna-se por conseguinte um dom para todos.

As suas reflexões que ressoaram na noite de Sexta-feira Santa no cenário sugestivo do Coliseu permaneceram impressas nas consciências dos homens. "Não podemos deixar de pensar foi o seu vibrante convite na meditação da nona estação em quanto sofre Cristo pela sua própria Igreja? Quantas vezes se abusa do santo sacramento da sua presença, em que vazio e maldade de coração muitas vezes ele entra! Quantas vezes celebramos apenas nós próprios sem nos apercebermos dele! Quantas vezes a sua palavra é deturpada e abusada! Quanta pouca fé há em tantas teorias, quantas palavras vazias! Quanta sujidade há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta autosuficiência!".

"Senhor é a oração que surge do seu coração muitas vezes a tua Igreja parece-nos uma barca na qual entra água por todos os lados. E também no teu campo de grão vemos mais erva daninha do que grão... A veste e o rosto tão sujos da tua Igreja desconcertam-nos. Mas somos nós quem os sujamos! Somos nós que te traímos todas as vezes, depois de todas as nossas grandes palavras, os nossos grandes gestos. Tem piedade da tua Igreja... Levantaste-te, ressuscitaste e podes levantar-nos a nós também. Salva e santifica a tua Igreja. Salva e santifica todos nós".

Só vinte e quatro horas depois da morte de João Paulo II, recebendo em Subiaco o "Prémio São Bento" promovido pela Fundação sublacense "Vida e Família", recordou com palavras hoje particularmente eloquentes: "Precisamos de homens como Bento de Nórcia, que num tempo de dissipação e de decadência, se imergiu na solidão mais extrema, conseguindo, depois de todas as purificações que teve que sofrer, alcançar a luz. Voltou e fundou Montecassino, a cidade sobre o monte que, com tantas ruínas, reuniu as forças com as quais se formou um mundo novo. Assim Bento, como Abraão, tornou-se pai de muitos povos".

Na sexta-feira, 8 de Abril, ele como Decano do Colégio Cardinalício presidiu à Santa Missa das exéquias de João Paulo II na Praça de São Pedro. A sua homilia, podemos dizê-lo, expressou a grande fidelidade ao Papa e à sua própria missão. ""Segue-me", diz o Senhor ressuscitado a Pedro, como sua última palavra a este discípulo, escolhido para apascentar as suas ovelhas. "Segue-me" esta palavra lapidária de Cristo pode ser considerada a chave para compreender a mensagem que vem da vida do nosso amado Papa João Paulo II, cujos despojos mortais depomos hoje na terra como semente de imortalidade o coração cheio de tristeza, mas também de jubilosa esperança e de profunda gratidão".

"Segue-me!", foi a palavra-chave, a ideia-guia da homilia que o Cardeal Ratzinger dirigiu ao mundo inteiro durante as exéquias do Santo Padre. Uma palavra que narra a missão de João Paulo II e ao mesmo tempo uma exortação que alcança todas as pessoas.

"Segue-me!". Juntamente com o mandamento de apascentar o seu rebanho, Cristo anunciou a Pedro o seu martírio são as palavras urgentes do Cardeal Ratzinger na sua vibrante e comovida homilia exequial. Com esta palavra que constitui ao mesmo tempo a conclusão e o resumo do diálogo sobre o amor e o mandato de pastor universal, o Senhor recorda outro diálogo, feito no contexto da última ceia. Aqui Jesus dissera: "Para onde eu vou, vós não podeis ir". Pedro pergunta: "Senhor, para onde vais?". Jesus responde: "Para onde eu vou agora, por enquanto tu não podes ir; seguir-me-ás mais tarde" (Jo 13, 33.36). Da ceia, Jesus vai para a cruz, vai para a ressurreição entra no mistério pascal; Pedro, ainda não o pode seguir. Agora depois da ressurreição chegou esse momento, esse "mais tarde". Apascentando o rebanho de Cristo, Pedro entra no mistério pascal, encaminha-se para a cruz e para a ressurreição. O Senhor diz isto com as seguintes palavras: "... quando eras mais jovem... ias para onde querias, mas quando fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te há-de cingir as vestes e levar-te para onde tu não queres" (Jo 21, 18). No primeiro período do seu Pontificado o Santo Padre, ainda jovem e cheio de forças, sob a guia de Cristo ia até aos confins do mundo. Mas depois entrou cada vez mais na comunhão dos sofrimentos de Cristo, compreendeu cada vez mais a verdade das palavras: "Outro cingir-te-á...". Foi precisamente nesta comunhão com o Senhor sofredor que incansavelmente e com renovada intensidade anunciou o Evangelho, o mistério do amor que vai até ao fim (cf. Jo 13, 1)".

"Ele afirmou o Cardeal Ratzinger interpretou para nós o mistério pascal como mistério da misericórdia divina... O Papa sofreu e amou em comunhão com Cristo e por isso a mensagem do seu sofrimento e do seu silêncio foi tão eloquente e fecunda". E concluiu da seguinte forma, com palavras que constituem uma "síntese" do Pontificado de João Paulo II mas também da sua própria missão de fiel, directo e estreito Colaborador do Papa desde 1981 como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé: "Divina Misericórdia: o Santo Padre encontrou o reflexo mais puro da misericórdia de Deus na Mãe de Deus. Ele, que perdera a sua mãe quando ainda era criança, amou tanto a Mãe divina. Sentiu as palavras do Senhor crucificado como se fossem ditas pessoalmente a ele: "Eis a tua mãe!". E fez como o discípulo predilecto: acolheu-a no íntimo do seu ser Totus tuus. E da mãe aprendeu a conformar-se com Cristo. Permanece inesquecível para todos nós como neste último domingo de Páscoa da sua vida, o Santo Padre, marcado pelo sofrimento, se apresentou mais uma vez à janela do Palácio Apostólico e pela última vez deu a bênção "Urbi et Orbi". Podemos ter a certeza de que o nosso amado Papa agora está à janela da casa do Pai, nos vê e nos abençoa. Sim, abençoa-nos Santo Padre. Nós confiamos a tua querida alma à Mãe de Deus, tua Mãe, que te guiou todos os dias e agora te guiará à glória eterna do Seu filho, Jesus Cristo nosso Senhor".

Na vigília da sua eleição para o Sólio Pontifício, na manhã de segunda-feira, 18 de Abril, na Basílica Vaticana, celebrou a Santa Missa "pro eligendo Romano Pontefice" com os Cardeais eleitores, poucas horas antes do início do Conclave que o teria eleito. "Nesta hora de grande responsabilidade exortou na homilia escutemos com particular atenção o que o Senhor nos diz". Referindo-se às leituras da Liturgia, recordou que "a misericórdia divina põe um limite ao mal. Jesus Cristo é a misericórdia divina em pessoa: encontrar Cristo significa encontrar a misericórdia de Deus. O mandamento de Cristo tornou-se mandamento nosso através da unção sacerdotal; somos chamados a promulgar não só com palavras mas com a vida, e com os sinais eficazes dos sacramentos, "o ano de misericórdia do Senhor"". "A misericórdia de Cristo realçou não é uma graça a bom preço, não supõe a banalização do mal. Cristo leva no seu corpo e na sua alma todo o peso do mal, toda a sua força destruidora. Ele queima e transforma o mal no sofrimento, no fogo do seu amor sofredor". "Quanto mais formos tocados pela misericórdia do Senhor acrescentou tanto mais entramos em solidariedade com o seu sofrimento, tornamo-nos disponíveis para completar na nossa carne "o que falta aos padecimentos de Cristo"".

"Não deveríamos permanecer crianças na fé, em estado de menoridade. Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decénios, quantas correntes ideológicas, quantas modas de pensamento... A pequena barca do pensamento de muitos cristãos não raramente foi agitada por estas ondas, lançada de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, até à libertinagem; do colectivismo ao individualismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo e por aí adiante. Todos os dias surgem novas seitas e realiza-se quanto diz São Paulo sobre o engano dos homens, sobre a astúcia que tende a levar ao erro (cf. Ef 4, 14). Ter uma fé clara segundo o Credo da Igreja, é com frequência classificado de fundamentalismo.

Enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar "aqui e além por qualquer vento de doutrina", parece ser a única atitude ao nível dos tempos de hoje. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida só o próprio eu e as suas vontades. Nós, ao contrário, temos outra medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. É ele a medida do verdadeiro humanismo. "Adulta" não é uma fé que segue as ondas da moda e a última novidade; adulta e madura é uma fé profundamente radicada na amizade com Cristo. É esta amizade que nos abre a tudo o que é bom e nos dá o critério para discernir entre verdadeiro e falso, entre engano e verdade. Esta fé adulta devemos amadurecê-la, para esta fé devemos guiar o rebanho de Cristo". "O nosso ministério recordou ao concluir é um dom de Cristo aos homens, para construir o seu corpo, o novo mundo. Vivemos o nosso ministério assim, como dom de Cristo aos homens! Mas nesta hora, sobretudo, rezamos com insistência ao Senhor, para que depois do grande dom do Papa João Paulo II, nos conceda de novo um pastor segundo o seu coração, um pastor que nos guie ao conhecimento de Cristo, ao seu amor, à alegria verdadeira".

(Fonte: www.vatican.va, apud L'Osservatore Romano)